quarta-feira, 20 de março de 2024

Rumos dos Ventos... A origem da Rosa dos Ventos Europeia

            O rumo dos ventos, termo que originou a rosa dos ventos são conhecidos desde da Antiguidade, e sua procedência permanece um mistério. Há teorias que sugerem que seu desenvolvimento ocorreu na Grécia Antiga, por volta do século IV a.C., sendo posteriormente disseminada pela Europa através dos romanos. Em contrapartida, existe a hipótese de que sua invenção tenha origem na China, no século III a.C., e que os árabes foram responsáveis por introduzi-la no Ocidente.
              No contexto geográfico europeu, durante a Idade Média, esses rumos ganharam nome utilizando referências de localidades próximas e a direção de origem ventos atuantes e conhecidos do mar Mediterrâneo.
            A necessidade de navegação dos povos mediterrâneos sobretudo na Idade Média pelas repúblicas marítimas de Amalafi, Pisa, Gênova, Veneza, entre outras, desenvolveu técnicas, métodos, instrumentos e meios científicos essenciais para obter êxito na navegação com a finalidade de descobrir e estabelecer rotas marítimas comerciais rápidas , seguras e confiáveis. A rosa dos ventos, uma ferramenta gráfica, que associada as cartas náuticas e a bússola,  ampliou o conhecimento e a habilidade dos navegadores da época.

Atlas Catalão, 1375. Autor Abraham Cresques👈. Este mapa teve imensa relevância
para a cartografia medieval. Auxiliou navegadores e viajantes entorno do mar Mediterrâneo.
 É o primeiro atlas conhecido que incorpora uma rosa dos ventos em sua ilustração. 
O uso da rosa dos ventos na cartografia foi fundamental para expansão marítima europeia.

            Ainda que incerto, aparentemente o ponto de referência (centro da Rosa dos Ventos) seria a ilha de Zante, no mar Jônico, na costa da Grécia e a possibilidade do mar Tirreno ser o ponto referencial para a rosa dos ventos europeia não está descartada.
             Os nomes dados as direções geográficas tendo como referência os nomes dos ventos refletem a vital importância que o comércio marítimo possuía no Mediterrâneo antigo. Nessa região, os padrões dos ventos não eram meros fenômenos naturais, mas sim elementos cruciais para a orientação e a navegação, estabelecendo rotas comerciais e influenciando o desenvolvimento econômico dos povos mediterrâneos.

 ANTINGA ROSA DOS VENTOS EUROPEIA
As denominações das direções geográficas adotadas na imagem acima,
levam os nomes dos ventos que sopram em direção ao mar Mediterrâneo:
Tramontana (norte),
Greco (nordeste),
Levante (leste),
Siroco (sudeste),
Mezzogiorno (sul),
Libeccio (sudoeste),
Ponente (oeste) e
Maestro (noroeste)


NORTE

            Tramontana tem origem na língua italiana e é usado para descrever um vento que sopra do norte. Literalmente, "tramontana" significa "além das montanhas" ou "atrás das montanhas". Historicamente, essa designação era frequentemente associada aos ventos que sopravam do norte, particularmente na Itália, em direção ao Mediterrâneo, passando sobre as cadeias montanhosas, como os Alpes europeus. 
           Tradicionalmente, o vento tramontana era considerado um vento frio. Na região do Mediterrâneo, especialmente na Itália, França e Espanha, o tramontana é conhecido por trazer ar frio e seco do norte ou noroeste, muitas vezes associado a mudanças bruscas de temperatura e condições climáticas mais frias. Isso ocorre porque o vento tramontana é frequentemente gerado pela passagem de sistemas de alta pressão sobre a região, trazendo ar frio e estável do continente para o mar. Como resultado, ele é percebido como um vento frio e refrescante pelos habitantes locais.

SUL

            Na antiga rosa dos ventos, "mezzogiorno" é o termo italiano para "meio-dia" ou "sul". Na rosa dos ventos, que é uma representação gráfica das direções cardeais, o mezzogiorno refere-se à direção sul. "Mezzo" significa "meio" e "giorno" significa "dia", portanto, literalmente, "mezzogiorno" é "meio do dia", indicando o ponto onde o sol está no céu ao meio-dia, que é geralmente na direção sul devido a latitude média do mar Mediterrâneo.


            É notável que, mesmo sem a disponibilidade de uma bússola para identificar os pontos cardeais, os antigos navegadores  podiam utilizar o Sol como referência para orientação. O nascer do Sol no Leste e o pôr do Sol no Oeste forneciam indicações essenciais. Ao meio-dia, especialmente no mar Mediterrâneo, onde as latitudes médias variam de 32º a 42º Norte, os navegadores podiam determinar a direção sul observando a posição elevada do Sol no céu.

Imagine um jovem no interior da Alemanha, observando os Alpes europeus ao meio-dia.
Nesta latitude, por exemplo, de 50ºN — uma latitude média —, é possível, ao meio-dia,
ver o Sol na direção do sul, por trás dos Alpes. Ao estender a mão direita, você estará
apontando para o oeste; a mão esquerda, para o leste; e suas costas
estarão voltadas para o norte. Esta técnica de identificar a direção sul, aplica-se
ao navegadores do mar Mediterrâneo e a elaboração da rosa dos ventos europeia.

OBS: O vento Mezzogiorno também é chamado de Ostro na região do mar Mediterrâneo. É um vento que sopra do sul e é conhecido por ser quente e úmido (umidade adquirida no próprio mar Mediterrâneo), contribuindo para o clima característico da região.

LESTE E OESTE

            Os termos "levante" e "ponente" estão relacionados aos ventos que sopram das direções do nascer e do pôr do sol, respectivamente. Aqui estão as características desses ventos:

Ponente

            O vento "ponente" é associado à direção oeste, onde o Sol se põe. Na antiga rosa dos ventos, "ponente" indica a direção do poente (a direção que o Sol se põe no horizonte) ou oeste.

Características: Esse vento geralmente traz ar úmido do oceano Atlântico para o interior. Na Europa, especialmente na Itália e em partes do Mediterrâneo, o ponente é frequentemente associado a condições meteorológicas mais úmidas e temperadas, especialmente nas regiões costeiras e podem estar associada a corrente do Golfo em determinadas condições atmosférica em um determinado período do ano.

Levante

            O vento "levante" é associado à direção leste, onde o Sol nasce. Na antiga rosa dos ventos, "levante" indica a direção do nascente ou leste.
 
Características: O levante é frequentemente associado a condições de tempo mais secas e quentes, especialmente em áreas costeiras. Ele pode trazer ar seco e quente do interior para as áreas costeiras, resultando em temperaturas mais altas e baixa umidade relativa do ar.

Ponente

            O vento "ponente" é associado à direção oeste, onde o Sol se põe (repousa). Na antiga rosa dos ventos, "ponente" indica a direção do poente (a direção que o Sol se põe no horizonte) ou oeste.

Características: Esse vento geralmente traz ar úmido do oceano Atlântico para o interior. Na Europa, especialmente na Itália e em partes do Mediterrâneo, o ponente é frequentemente associado a condições meteorológicas mais úmidas e temperadas, especialmente nas regiões costeiras e podem estar associada a corrente do Golfo em determinadas condições atmosférica em determinado período do ano.

             Resumindo, esses termos (poente e levante) são tradicionalmente utilizados para descrever as direções cardeais em relação ao movimento aparente do sol no céu. Eles são especialmente importantes em regiões onde os ventos predominantes são influenciados pelas massas de ar que se deslocam do oceano Atlântico para o continente (ponente) e do continente para o oceano (levante).

NORDESTE

            O vento "greco" não é um termo comumente utilizado para descrever um vento específico. Na rosa dos ventos, "greco" geralmente se refere ao vento do nordeste, associado desta forma, à direção nordeste. No entanto, a região dos Bálcãs, que inclui países como Grécia, Albânia, Macedônia do Norte, Bulgária e partes da Sérvia, Kosovo e Montenegro, pode de fato gerar ventos do nordeste em direção ao mar Egeu e ao Mediterrâneo.
            As características do vento que vem dos Bálcãs podem variar dependendo da temporada e das condições meteorológicas locais. No verão, esses ventos podem ser quentes e secos, especialmente quando são influenciados por sistemas de alta pressão sobre a região. No entanto, durante o inverno, esses ventos podem ser frios e úmidos, especialmente quando associados a sistemas de baixa pressão que trazem ar frio do continente para o mar. Em geral, esses ventos podem ser moderados a fortes, e sua influência pode variar dependendo da topografia e da geografia específicas da região.
            É possível que o termo "greco" esteja associado à Grécia, especialmente considerando que o nome se origina do termo italiano "greco", que significa "grego" em português. Na rosa dos ventos, onde cada direção é muitas vezes associada a uma região geográfica ou ponto de referência, o "vento greco" poderia indicar um vento proveniente da direção nordeste, que incluiria a região dos Bálcãs e, consequentemente, a Grécia. No entanto, é importante notar que a terminologia específica pode variar dependendo do contexto geográfico e cultural.

 SUDESTE

            Siroco refere-se ao vento quente e úmido que sopra do deserto do Saara (norte da África) em direção ao norte da África e ao sul da Europa. Na rosa dos ventos, o siroco está associado à direção sudeste.

NOROESTE

            O vento maestro é comum nas regiões do Mediterrâneo, e esta associada a corrente do Golfo. Ele geralmente traz ar quente e úmido do oceano Atlântico, podendo resultar em possíveis chuvas e tempestades, dependendo das condições atmosféricas e da época do ano. Na antiga rosa dos ventos, o termo "maestro" pode de fato indicar a direção noroeste a partir do território francês.  Mas  esta afirmação é imprecisa pois podem variar de acordo com o contexto histórico e geográfico.

SUDOESTE 

            Acredita-se que o termo "libeccio" tenha origem na palavra latina "libycus", que significa "vindo do norte da África" ou "vindo da Líbia". Esse vento, também conhecido como "vento do sudoeste", é caracterizado por soprar do sudoeste e é comum na região do Mediterrâneo. Ele carrega ar quente e úmido do mar Mediterrâneo em direção às costas da Itália, sul da França e outras regiões do sul da Europa. O libeccio pode trazer condições de tempo quente e úmido, muitas vezes acompanhado de chuvas e tempestades, dependendo das condições atmosféricas. 

CONSIDERAÇÕES FINAIS

a) É importante notar que os termos usados na rosa dos ventos são diferentes de acordo com o contexto histórico, cultural e geográfico. A rosa dos ventos apresentada aqui, representa a visão europeia medieval, a partir do mar Mediterrâneo e não representa a visão dos árabes ou dos chineses que adotavam outras nomenclaturas baseadas na geografia, conhecimentos náuticos, cosmologia e símbolos característicos para utilizar a mesma.

b) A padronização da rosa dos ventos que utilizamos atualmente é um reflexo direto da hegemonia europeia 👈, que se consolidou durante as Grandes Navegações, no mercantilismo e pela expansão colonial, estabelecendo assim um padrão global de orientação náutica difundida nestes períodos.

c) É interessante citar que a rosa dos ventos foi incorporada à bússola somente no século XIII. Foi um aperfeiçoamento atribuído ao navegador e inventor italiano Flavio Gioia. Ele adaptou a rosa dos ventos a um cartão que indicava os pontos cardeais, o que facilitou significativamente a orientação pelos mapas durante esse período.


Consulte ainda os seguintes temas: 
BÚSSOLA👈 

Fonte:

https://www.meteorologiaenred.com/
https://www.greenme.com.br/



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